Futuro das ferrovias de cargas

Os benefícios das ferrovias ao redor do mundo são inegáveis. Há vários exemplos atuais de sucesso que podem ser relacionados, como os da América do Norte, para cargas, e Europa e Ásia, para passageiros. A diferença entre o sucesso e o fracasso dos diversos sistemas ferroviários existentes está muito relacionada à maneira como eles foram construídos e operados nos últimos 150 anos.

No Brasil, e diferentemente do verificado em vários países, as ferrovias foram construídas no século XIX para atender, principalmente, a exportação de produtos primários. Passageiros também eram transportados, mas não representavam os verdadeiros objetivos. Esta decisão do passado tem influenciado até os dias atuais os resultados operacionais e as contribuições sociais das ferrovias.

Mais recentemente, a partir da década de 1990, diversas decisões tomadas durante as privatizações das ferrovias brasileiras resultaram num sistema limitado em vários aspectos. A privatização foi estabelecida através de contratos de concessão que privilegiam mais a operação ferroviária e menos a prestação de serviços. Desta forma, o descontentamento de usuários e embarcadores é frequente no país.

O sistema ferroviário brasileiro é controlado atualmente por três empresas, que definem o que será transportado e quando o transporte será realizado. As empresas ferroviárias não estão organizadas como prestadoras de serviços de transportes, pois movimentam, em grande parte, seus próprios produtos. Além disso, produtos minerais e agrícolas monopolizam a capacidade de transporte do sistema ferroviário atual. Dificilmente outros produtos têm acesso aos benefícios oferecidos pelos trens.

O modelo de privatização escolhido resultou em outro absurdo, pois as malhas privatizadas a partir da década de 1990 encolheram. A expansão da oferta de serviços, que deveria ser o grande objetivo das privatizações, não aconteceu. Atualmente, apenas um terço da malha está sendo efetivamente utilizada. Os fluxos de cargas acontecem, majoritariamente, nos corredores de exportação. Trechos ferroviários fora destes corredores estão subutilizados ou inoperantes ou são devolvidos para a União.

A situação das novas ferrovias de bitola larga também é preocupante. A conclusão da Transordestina Logística S.A. é uma grande incógnita, assim como da Ferrovia de Integração Oeste-Leste.

Apesar das renovações dos contratos de concessão ferroviária que estão acontecendo no atual momento, há poucos indícios de que o país terá sua malha ferrovia ampliada e os serviços ampliados.

As ferrovias brasileiras não podem ser analisadas e entendidas apenas como uma infraestrutura formada por linhas e pontos de conexão destinadas ao transporte de cargas e passageiros. Estes sistemas se relacionam com outros, como o social, urbano, ambiental e econômico. É a partir desta abordagem mais ampla que devemos procurar entender o passado e o futuro das ferrovias brasileiras.