Em diversos eventos técnicos sobre transporte e logística realizados na última década, um representante da ANTAQ – Agência Nacional de Transportes Aquaviário costumava perguntar aos participantes, no início de sua palestra, se todos os rios são navegáveis. A resposta da plateia costumava ser, em todas as ocasiões, negativa. O palestrante informava, no entanto, que o correto seria dizer que sim, pois o uso dos cursos dos rios como meio de transporte depende dos usuários e de seus objetivos e necessidades.
É mais ou menos desta maneira que devemos nos comportar ao pensar nas infraestruturas de transporte necessárias para atender a sociedade brasileira. A discussão sobre as melhores modalidades de transportes depende dos interesses dos atores que estão exigindo a construção das infraestruturas. Não existe uma opção melhor que outra, mas as mais adequadas para atender determinadas necessidades.
A lista de projetos de rodovias, ferrovias, hidrovias, portos e aeroportos incluídos no planejamento estatal visa atender alguns objetivos, que não necessariamente incluem as demandas de todos. Normalmente, a escolha destas modalidades segue alguns modelos, que precisam ser analisados com muita atenção e cuidado.
Com relação ao transporte de cargas, há três modelos normalmente utilizados para determinar as opções mais vantajosas. São eles: características das modalidades de transportes, características operacionais dos serviços de transportes e distâncias econômicas universais.
As modalidades podem ser comparadas de acordo com as seguintes características: topologia (flexível ou rígido), velocidade (baixa, média ou alta), capacidade de carga, custos fixos para a construção da infraestrutura e custos variáveis relacionados à sua operação.
Os serviços realizados pelas diferentes modalidades de transportes podem ser caracterizados pela velocidade, consistência (referente à eficiência no cumprimento dos tempos previstos), capacitação (capacidade de movimentar diferentes volumes e tipos de produtos), disponibilidade (número de locais em que a infraestrutura está disponível) e frequência (número de viagens por unidade de tempo).
O modelo conhecido como distâncias econômicas universais considera a distância mais adequada economicamente com relação ao valor do frete. Segundo este modelo, o uso das rodovias para o transporte de cargas é mais indicado para distâncias até 500 km, as ferrovias entre 500 e 1.200 km e hidrovias acima de 1.200 km.
Estes três modelos são utilizados amplamente no planejamento das infraestruturas de transportes no país para fundamentar as escolhas mais adequadas, mas também como justificativa para realizar a mudança da matriz de transportes.
A partir destes modelos, e ao contrário do que muitos podem pensar, a modalidade rodoviária é a mais interessante, principalmente porque o frete não é a única variável determinante para a escolha da melhor alternativa. O uso destes modelos depende das necessidades que se pretende atender, envolvendo região geográfica, tipo de produto e destino da carga (mercado interno ou externo).
Portanto, os rios não são navegáveis para a grande maioria dos especialistas em logística porque todos estão limitados à necessidade do agronegócio exportador. Para aqueles que pensam de forma mais ampla, todos os rios são navegáveis.