Através da história é possível mobilizar a sociedade para a realização de ações transformadoras no presente. O programa de privatização das ferrovias brasileiras iniciada na década de 1990 desconsiderou esta questão e não criou instrumentos para que museus ferroviários fossem constituídos. Nos últimos 25 anos, portanto, grande parte do acervo material e imaterial ferroviário no país se perdeu.
Algumas iniciativas importantes, no entanto, conseguiram manter a história dos trens disponíveis e acessíveis aos cidadãos. Os serviços incluem passeios de trem, exposição de material ferroviário e centro documental das antigas ferrovias.
Um dos exemplos de preservação da memória ferroviária mais importantes do país é a Vila de Paranapiacaba, localizada no município de Santo André (SP). Foi construída para viabilizar a subida e descida dos trens na Serra do Mar, entre o porto de Santos e o planalto paulista. Possui um dos sistemas funiculares mais importantes do mundo, pela grandiosidade e complexidade, que atrai aficionados por trens de todos as partes do mundo. A vila possui uma arquitetura que leva os turistas à Inglaterra antiga, principalmente pela torre do relógio que procura imitar o Big Ben londrino. Há diversos equipamentos ferroviários antigos em exposição, assim como oficinas e prédios que algum dia foram utilizados pela companhia ferroviária inglesa.
O Museu Ferroviário da Companhia Paulista, em Jundiaí (SP), apresenta aos visitantes prédios, oficinas e vasto material rodante, como marias fumaças, locomotivas e vagões de passageiros e de serviços antigos. O destaque deste museu é o acervo documental, disponível para consulta, de uma das empresas ferroviárias mais importantes do país.
Fundado em 1997, em Sorocaba (SP), o Museu Estradas de Ferro Sorocabana registra a história de uma outra importante ferrovia do país (Figura 1). A Sorocabana foi criada em 1875 para ligar a capital paulista à Sorocaba. O museu está instalado em imponente prédio próximo à estação ferroviária, com diversas peças, mobiliário, fotos e utensílios utilizados pela ferrovia. No museu há grande destaque aos fundadores e diretores da empresa.
A ocupação da região norte do estado do Paraná, realizada no início do século XX, tem uma relação muito grande com as ferrovias. As principais contribuições das ferrovias estão disponíveis no Museu Histórico de Londrina, inaugurado em 1986. No prédio da antiga estação ferroviária da cidade, inaugurado em 1950 e de arquitetura europeia, há um grande acervo de fotos, documentos, artefatos e equipamentos ferroviários, assim como uma maria fumaça e vagões de passageiros restaurados.
A evolução da engenharia brasileira está relacionada, também, à construção das ferrovias iniciada há mais de 150 anos no país. Um dos destaques pelo pioneirismo pode ser verificado na cidade paulista de Mairinque. O prédio da estação ferroviária é considerado o primeiro construído em concreto armado, em 1906, tendo um valor arquitetônico inestimável. Junto à estação há outros prédios e oficinas, alguns em atividade, e locomotivas antigas que podem ser visitados.
A cidade de Bauru era considerada um importante entroncamento ferroviário no oeste paulista, conectando as ferrovias Noroeste e Sorocabana. A estação imponente e o museu ferroviário proporcionam aos visitantes uma viagem ao passado das ferrovias. O acervo de material rodante disponível inclui as famosas locomotivas elétricas Russa, V8 e Vanderléia.
Há outras cidades no país que entendem a importância de resgatar a história das ferrovias e procuram realizar projetos para cuidar do patrimônio ferroviário existente. São ações fundamentais para explicar como a sociedade e as cidades brasileiras foram constituídas e organizadas no século XX.