Um dos mais importantes patrimônios ferroviários do Brasil está localizado na Vila de Paranapiacaba, município de Santo André. A história ferroviária do século XIX pode ser verificada na arquitetura e em grande parte dos equipamentos espalhados pelo pátio ferroviário.
Na parte alta da vila, logo na entrada, está a Paróquia de Sr. Bom Jesus de Paranapiacaba, fundada em 1889. Um pouco mais adiante, ainda na parte alta, há dezenas de prédios residenciais e comerciais de arquitetura europeia, organizadas em ruas estreitas e sinuosas.
Descendo uma ladeira, é possível ter uma visão geral do pátio ferroviário de Paranapiacaba, inaugurado em 1867 pela São Paulo Railway. Esta ferrovia tinha como principal objetivo transportar café do interior paulista ao porto de Santos. Os prédios, oficinas e estações localizados neste pátio foram criados para dar suporte ao sofisticado sistema funicular utilizado para que as composições pudessem vencer a Serra do Mar.
Devido à grande inclinação, os trens eram puxados por cabos de aço ligados a grandes máquinas movidas a vapor. Este sistema, desativado em 1982, é referência em diversas publicações sobre ferrovias, pela sua grandeza, complexidade e importância para a engenharia ferroviária mundial. Em 1974, foi inaugurado o sistema de cremalheira, utilizado atualmente por locomotivas elétricas por ser muito mais eficiente do que o funicular.
Muitas das construções existentes no pátio ferroviário foram erguidas com a utilização de materiais importados. A torre do relógio lembra muito a torre do sino Big Ben do Palácio de Westminster, em Londres (Figura 1). É a construção mais emblemática do pátio ferroviário. O relógio foi fabricado pela empresa inglesa Johnny Walker Benson.
No alto de uma colina está localizada, estrategicamente, a casa do engenheiro chefe que era responsável por todas as operações do pátio ferroviário. Foi construída em 1897 para acompanhar a descida e subida dos trens e demais atividades nas oficinas e estações.
Há muitas placas de sinalização antigas, contendo inscrições como “sahida”, “prohibida” e “machina”, que permitem entender o português utilizado no século passado.
No pátio ferroviário há uma grande quantidade de material rodante antigo, tais como vagões de cargas, vagões de passageiros, veículos de linha e veículos de manutenção. Todos aguardando por restauro. No Museu do Funicular há equipamentos ferroviários utilizados no século XIX, tais como um vagão funerário e o carro utilizado pelo Imperador D. Pedro II.
Um trem formado por uma locomotiva a vapor e um vagão de passageiros de madeira pode ser utilizado pelos visitantes mediante programação. A locomotiva, da São Paulo Railway, é a de número 10, fabricada em 1867 pela Sharp Stewart Limited.
A Vila de Paranapiacaba leva o visitante para um momento histórico muito importante do país, em que grande parte dos equipamentos, estruturas e organização do espaço era definida pelos ingleses para atender seus próprios interesses.