Trilhos em Piracicaba

Por um período de quase um século, Piracicaba manteve uma relação intensa e empolgante com os caminhos de ferro. Os trens participaram da vida dos piracicabanos de forma tão significativa que permanecem na memória de muitos até os dias atuais.

Eram novidades que representavam o progresso, pelos grandes benefícios proporcionados. Os trilhos ligavam a cidade a outros centros urbanos importantes, monopolizando o transporte de cargas e passageiros. O município contava com várias estações de companhias ferroviárias importantes no país, tais como a Ituana/Sorocabana e a Paulista. No distrito de Artemis, um porto com estrutura e pêra ferroviária era utilizado como terminal para a transferência de cargas entre ferrovia e as embarcações no rio Piracicaba.

Três linhas de bondes (tramways) também contribuíram muito para Piracicaba (Figura 1). Os trilhos cortavam a cidade em três linhas, facilitando a locomoção dos piracicabanos entre o centro e a Estação da Paulista, Vila Rezende e Escola Agrícola (Esalq). Os serviços entraram em operação em 1916 e perduraram por quase 50 anos.

Figura 1 – Bondes na Esalq/USP

Dois importantes produtores de açúcar de Piracicaba, a Usina Monte Alegre e o Engenho Central (Figura 2), utilizaram os trens em seus sistemas produtivos. Com uma rede bem estruturada, ligando os canaviais às usinas, o transporte de cana foi realizado com muita eficiência e sucesso.

Figura 2 – Trilhos no Engenho Central de Piracicaba

É importante destacar, também, que a cidade teve uma participação singular na produção de locomotivas. A primeira de fabricação nacional, de nome Fúlvio Morganti, foi construída na Usina Monte Alegre em 1938 por João Bottene, considerado o “gênio da mecânica”. Outras locomotivas importantes fabricadas por Bottene para o transporte de cana-de-açúcar na Usina Monte Alegre foram Maria Helena, movida a álcool, e Dona Joaninha (Figura 3), atualmente repousando numa praça em Guarulhos.

Figura 3 – Locomotiva Dona Joaninha (Foto: São Paulo Antiga)

A relação dos piracicabanos com as ferrovias está presente também na Paulista, bairro que recebeu este nome como referência ao prédio da estação da Companhia Paulista de Estradas de Ferro inaugurado em 1922.

As referências históricas apresentadas mostram que, ao contrário do que muitos dizem até os dias atuais, Piracicaba nunca foi fim de trilho. Essa era uma visão limitada aos interesses das empresas ferroviárias.

Para a cidade, o que importa é que os trilhos ajudaram os piracicabanos em suas demandas, possibilitando construir diversas histórias de sucesso que gostamos de contar. Piracicaba tem o privilégio de ser o centro de muitas realizações importantes que contribuíram para o país. Se os piracicabanos entenderem a importância das ferrovias, talvez elas voltem a apitar novamente entre nossas colinas.