O transporte de passageiros de longa distância nos Estados Unidos é realizado pela empresa Amtrak (National Railroad Passenger Corporation) (Figura 1). Atende 500 localidades em 46 estados americanos, além de algumas cidades canadenses. A operação ferroviária inclui mais de 300 trens e 35 mil km de linhas.
Desde sua criação, em 1971, está apresentando resultados negativos em seus balanços. Os prejuízos constantes têm gerado muitas discussões entre os americanos sobre a necessidade ou não de privatizar a empresa. Não há consenso se os serviços de transportes, como o ferroviário de passageiros, devem ser considerados um negócio ou um serviço público. São posições completamente diferentes, que influenciam diretamente na qualidade dos serviços prestados.
Os defensores da privatização procuram utilizar a conhecida equação “estatal é ruim” e “privado é bom”. Para eles, a privatização traria melhor eficiência para o sistema, resultando em lucros e retorno sobre os investimentos da empresa ferroviária. Mas existe uma lógica de mercado que precisa ser considerada. A operação privada destes serviços passaria a priorizar rotas ferroviárias mais lucrativas e a eliminar as deficitárias.
A realidade tem demonstrado que os sistemas de transportes nos Estados Unidos estão sempre operando com o auxílio de algum subsídio público. As tarifas provenientes dos serviços prestados não são suficientes para pagar os investimentos realizados na construção das infraestruturas de rodovias, ferrovias e aerovias. Portanto, a intervenção estatal é fundamental para a existência destes serviços.
Para os especialistas que defendem a não privatização, os benefícios oferecidos pela Amtrak dificilmente podem ser medidos pelos modelos de negócios usualmente utilizados. O valor dos serviços oferecidos vai muito além dos números e observações de um relatório contábil.
Além de transportar encomendas e passageiros, a Amtrak contribui com a sociedade americana através da economia de energia, redução de poluentes, independência quanto ao uso de combustíveis fósseis e segurança nacional, pois oferecem redundância em caso de outros sistemas de transportes falharem. Além disso, atendem regiões agrícolas dependentes das ferrovias, cujos serviços não podem ser interrompidos pois garantem a manutenção das atividades locais.
O país mais capitalista do mundo entende a importância de manter um sistema de transporte ferroviário de passageiros, mesmo que seja deficitário em suas operações. A Amtrak, que realizou no último ano 37 milhões de viagens, é um bom exemplo de um serviço público que prioriza o interesse da sociedade.
É através desta visão mais ampla que os sistemas de transportes deveriam ser analisados e considerados. A condução das políticas de transportes no Brasil deveria ser rediscutida, considerando outras opções e alternativas praticadas ao redor do mundo.