Desenvolvimento das ferrovias – 1835 a 1957

Para compreender o período de desenvolvimento das ferrovias no país, que vai de 1835 a 1957, é necessário analisar como estava organizada a sociedade e a economia brasileira na primeira metade do século XIX.

O território era formado por um conjunto de arquipélagos (ARAÚJO, 2000; BARAT, 1978; COUTO E SILVA, 2003), cujas economias regionais eram independentes e não se relacionavam entre si. As diferentes regiões estavam interligadas às economias europeias, sendo, portanto, um prolongamento de sistemas econômicos maiores. As ferrovias foram construídas, no período analisado, para atender demandas de uma sociedade agroexportadora.

O desenvolvimento das ferrovias no Brasil teve início em 1832 através da Lei 100, de 31 de outubro de 1835, que autorizava a Regência a fazer concessões para as empresas que se propusessem a construir estradas de ferro entre Rio de Janeiro e Minas Gerais e entre Rio Grande do Sul e Bahia. A primeira ferrovia, Estrada de Ferro Mauá, foi inaugurada somente em 1854 no Rio de Janeiro.

Mas foi o café, produto que dominou a economia nacional no período de desenvolvimento das ferrovias, que mobilizou diversos investimentos na criação de empresas ferroviárias. De uma forma geral, as linhas foram construídas para interligar as regiões produtoras de produtos primários aos portos exportadores, com seus traçados, em grande parte, perpendiculares ao litoral.

Relação das ferrovias com os portos em 1910 (PASSOS, 1952)

Numa tentativa de desenvolver as estradas de ferro, foram promulgadas as leis de garantia de juros e das subvenções quilométricas. Estas leis foram um incentivo à ineficiência na construção e operação das ferrovias (TELLES, 1994), fazendo com que as estradas fossem as mais baratas possíveis, sem recortes, túneis e pontes e, consequentemente, com muitos desvios e curvas.

Nesse período de 123 anos, o monopólio das ferrovias no transporte de cargas e passageiros era uma realidade. Foram construídos, aproximadamente, 35 mil quilômetros de linhas. Os sistemas independentes, que não seguiam um plano de conjunto, resultaram numa grande diversidade de bitolas e material rodante. A integração das malhas não era prioridade, portanto, não existia de fato um sistema ferroviário nacional.

A decadência das ferrovias brasileiras foi o resultado de diversos acontecimentos surgidos a partir da crise de 1929. O principal deles foi o declínio das exportações do café, que contribuíram para a inviabilização econômica das ferrovias. Com a tentativa de recuperação e readequação das empresas ferroviárias, através da criação da estatal RFFSA em 1957, inicia-se o segundo período da história das ferrovias brasileiras.


ARAÚJO, T. B. Dinâmica Regional Brasileira nos anos Noventa: Rumo à Desintegração Competitiva?. In: CASTRO, I. E; MIRANDA, M.; EGLER, C. A. G., (org.). Redescobrindo o Brasil: 500 anos depois. Rio de Janeiro: Bertrand, 2000.

BARAT, J. A evolução dos transportes no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE: IPEA, 1978.

COUTO E SILVA, G. Geopolítica e poder. Rio de Janeiro: UniverCidade, 2003.

PASSOS, E. Plano Nacional de Viação e Conselho Nacional de Transporte (Projetos nº 326-A e 327 de 1949). Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1952.

TELLES, P. C. da S. História da Engenharia no Brasil (Séculos XVI à XIX). Rio de Janeiro: Clavero, 1994.