Determinantes da reativação das ferrovias

A reativação das ferrovias no final do século XX foi um acontecimento verificado em vários países ao redor do mundo. Apesar disso, cada país promoveu mudanças e ajustes em seus sistemas ferroviários de acordo com realidades muito diferentes.

Para entender o processo de retomada dos investimentos em ferrovias no Brasil, é necessário relembrar importantes acontecimentos econômicos e sociais que caracterizaram as décadas de 1980 e 1990.

Após a grave crise verificada na década de 1980 no país, acompanhando o ocorrido em vários outros países considerados periféricos ou em desenvolvimento, a alternativa definida para a retomada da economia nacional foi reorientar sua estrutura territorial para promover a exportação de produtos primários.

A partir desta decisão, o país começa um lento e contínuo processo de reorganização, envolvendo novas infraestruturas de transportes e aparatos regulatórios para facilitar as exportações de commodities. Novas leis são definidas e diversos planos de investimentos passaram a fazer parte das políticas públicas e privadas.

Por estarem voltadas quase que exclusivamente em direção aos portos e pelas características dos produtos exportados, que são de alto volume e baixo valor agregado, as ferrovias foram escolhidas para atender a nova ordem que se estabeleceu. A privatização das ferrovias brasileiras foi realizada a partir de 1996 como parte dos ajustes necessários.

A partir de 1990, uma mudança substancial na balança comercial nacional foi verificada, com um aumento da participação de produtos primários e uma redução de produtos de maior valor agregado. Em 1998, a participação de produtos básicos ou primários estava na ordem de 25% sobre o total exportado em dólar. Já em 2017, a mesma participação passou para 46%.

As exportações de minério de ferro e produtos agrícolas aumentaram significativamente nos últimos 20 anos. Entre 1997 e 2017, a exportação de minério de ferro mais que triplicou, a da soja cresceu mais de oito vezes, milho 96 vezes e açúcar 6 vezes (ibdem).

Outra mudança importante verificada no período atual analisado está relacionada à agricultura nacional. A produção agrícola de produtos exportáveis, tais como soja, milho, algodão e cana-de-açúcar (açúcar) mais do que dobraram em volume entre 1997 e 2017 (Tabela 1). Por outro lado, os volumes produzidos de produtos pertencentes à cesta básica, tais como arroz, feijão, mandioca e café, não aumentaram no mesmo ritmo nos últimos 20 anos.

Os grandes beneficiados pela reativação recente das ferrovias brasileiras são os exportadores, com destaque para as tradings, e países importadores, como a China. É desta forma que o Brasil e as ferrovias brasileiras estão inseridas atualmente na divisão internacional do trabalho.

PRODUÇÃO AGRÍCOLA NO BRASIL DE PRODUTOS EXPORTÁVEIS E DA CESTA BÁSICA